As águas
de março este ano chegaram em fevereiro e com grande intensidade. Pode-se dizer
que elas vieram quase todas no mesmo dia. Com elas os velhos problemas da falta
de esgoto pluvial na cidade, ou seja, ruas alagadas e trânsito parado. Pela
intensidade os problemas aumentaram, as águas invadiram casas, comércios e
transbordaram a lagoa e o riacho.
Isso me
alertou sobre a falta de um sistema ou rede bem planejada de coleta de águas
deste tipo na cidade. E poderia esticar este pensamento para tantas outras
coisas que faltam ou nunca foram pensadas pelos nossos governantes, mas não o
fiz.
Preferi
pensar em lugares que já passaram por estes problemas (séculos atrás) e os
resolveram indo além. Um destes lugares é Paris. Resolvido o problema sanitário
e pluvial, os grandes túneis de esgoto passaram a ter mais uma utilidade: o
turismo.
A cidade
não possui apenas atrativos turísticos aparentes, possui também aqueles ocultos
(pelo menos para a maioria dos turistas de primeira viagem), ou seja, literalmente
no underground da cidade. No caso de
Paris, o Museu dos Esgotos
(Musée
des Égouts).
Trata-se de um
verdadeiro tour “por uma cidade embaixo de outra cidade”, uma interessante aventura por um sistema subterrâneo cujas
origens estão no século 14. Não dá para garantir que o passeio inclua vistas
bonitas ou bons odores, mas esse quase meio quilômetro de trajeto, iniciado na
Place de la Résistance, é uma boa aula de história, principalmente do capítulo
higiene, um assunto cujos problemas os parisienses já tentavam resolver na
Idade Média.
Alguns
podem dizer que o passeio pelos túneis da cidade não tem o glamour da Torre
Eiffel, mas pode informar o visitante sobre a gestão das águas usadas com quem
tem um sólido know-how sobre o assunto. Para se ter uma ideia dos números
envolvidos neste processo veja os dados a seguir:
Todos os dias são despejados 1,2 milhão de
metros cúbicos de água usada nos 2.100 quilômetros de túneis sendo retirados da
rede mais de 15 mil metros cúbicos de dejetos sólidos. O correspondente a um
prédio de seis andares. A água que abastece a cidade vem do rio Sena e, hoje,
depois de tratada, volta para o Sena.
Esta é a
uma das importantes informações, o rio Sena hoje está novamente limpo porque a
água que dele sai volta somente após o tratamento. Isto pode ser também
realidade no nosso maltratado Mampituba.
Mas ainda
sobre o turismo nos túneis de Paris. Além de revelar ao visitante um sistema de tratamento muito inteligente, criado
no final do século 14, o passeio impressiona bastante ao expor um antiquíssimo
conjunto de tubos de ferro conhecido como “o sistema nervoso da cidade”. Nesta
área, batizada com o nome do responsável pela construção do principal sistema
de Paris, no reinado de Luís XIV (Galeria Michel Turgot), também está exposta
uma máquina de época utilizada para a limpeza dos túneis. O mapa numerado e as
placas nas paredes conduzem o visitante por um conjunto de galerias
interligadas que mais se parecem com ruas. Cada uma delas leva o nome de uma
personalidade importante na época. O tour pelo Museu dos Esgotos de Paris não é
muito concorrido, tem duração de uma hora e meia, em média, e a entrada custa
apenas €4.30, o equivalente a R$ 14,00.
É parece que o turismo em Paris literalmente
entrou pelo cano, mas saiu. E Torres vai conseguir sair?
Fonte: http://www.melhoresdestinos.com.br/museu-esgotos-paris.html
Roni
Dalpiaz
Mestre
em Marketing, Administrador e Turismólogo.