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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
sábado, 15 de dezembro de 2018
ATRATIVOS VINTAGE PARA TORRES
Não é por
falta de assunto que retorno escrever sobre algumas relíquias históricas da
nossa cidade.
Em todo o
mundo, principalmente no velho mundo, o turismo está intimamente ligado com as
relíquias históricas. Ninguém vai para a Europa, por exemplo, e deixa de visitar
pelo menos um museu, algum prédio de valor histórico, alguma praça tombada (e
conservada), ou monumentos erguidos por motivos histórico/culturais. Quem viaja
o faz para conhecer lugares, pessoas, culturas, monumentos, histórias.
Destinos dentro
ou fora do nosso país tendem a oferecer tudo isso e as vezes um pouco mais.
Lembro do
caso da pequena cidade de Verona, na Itália, onde existe a famosa casa da
Julieta (aquela do Romeu). Ela fica próxima à rua mais movimentada da cidade.
Estando no centro de Verona é só andar poucas quadras que se encontra o local,
normalmente atopetado de gente. Entra-se através de uma porta em forma de arco,
passando por um corredor que termina em um jardim interno onde se vê de um
lado, a porta de entrada da casa com a famosa sacada; e do outro lado uma
pequena loja de souvenires. No fundo do jardim, uma estátua de bronze da
Julieta recebe os visitantes, sempre rodeada de pessoas que esperam sua vez de
serem fotografadas com a mão em um de seus seios.
É isso
mesmo! Dizem que os homens (e mulheres) que colocarem a mão nos seios da
Julieta terão sorte no amor. Se é verdade não sei, mas por via das dúvidas, eu
segui o fluxo...
Isso que
eu chamo de saber usar a história em prol do turismo local.
Todo
mundo sabe que nunca existiu uma Julieta e nem um Romeu. A história é um
romance trágico de Wiliam Shakespeare ambientado na cidade de Verona na Itália.
Então se os personagens não existiram, tampouco a casa existiu!
Pois é. Dezenas,
centenas, milhares de pessoas visitam diariamente uma casa que só existe porque
alguém teve a feliz (e rentável) ideia de recriar uma história através da casa
onde supostamente teria morado a figura central do romance de Shakespeare. As
pessoas não pagam para entrar no local (apenas na parte interna da casa), mas pagam para ter as
‘lembrancinhas’ do local. Não pagam pelas fotos ao lado da estátua, mas
retribuem colocando estas mesmas fotos em suas redes sociais, tornando ainda
mais famoso o local e despertando a curiosidade de potenciais turistas.
Sabemos
que não são inteiramente verdadeiras muitas dessas histórias que são contadas
para nós durante as viagens, digamos que a muitas delas tem uma licença
poética. Mas no fundo o que o turista quer é que sua viagem seja rica em
cultura, diversão, lazer e muitas histórias para contar, mesmo que algumas
delas não sejam assim tão verdadeiras.
E o que tem a ver essa história
com Torres e suas relíquias? Tudo.
Os antigos guarda-sóis da SAPT,
por exemplo, poderiam ser utilizados como atrativo turístico na Praia Grande. Cinco
ou dez guarda-sóis poderiam ser recriados, a partir de fotografias antigas, e colocados
nas areias da Praia Grande e utilizados como auxiliares na divulgação da
cidade. Os guarda-sóis, devidamente identificados com o nome de Torres, e se
forem patrocinados, com o nome dos parceiros seriam ótimos para aquela foto à
beira mar da mais bela e cultural praia gaúcha.
Outra relíquia que poderia ser
utilizada é a Guarita Salva-vidas. Restaurada, ela poderia ser utilizada também
para a divulgação da cidade. Com uma pequena contribuição, os turistas poderiam
subir as escadas do mirante e, lá em cima, receber algumas informações sobre o
monumento e até, quem sabe, ouvir histórias sobre o local. E claro, fazer
várias fotos da praia e do mirante.
Os turistas certamente
colocarão essas fotos em suas redes sociais, dando uma boa alavancada na
divulgação da cidade. Parece pouco, mas com pouco investimento resgata-se parte
da história torrense e ainda cria-se dois novos atrativos (embora um já exista)
para a nossa cidade.
Como fazer isso? Através de
projeto bem elaborado e de parceria público privada.
Lá em Verona uma história
fictícia divulgou a cidade para o mundo, e ainda hoje rende frutos com a casa
que nunca existiu.
Aqui, guardadas as devidas
proporções, os famosos Guarda-sóis (hoje desaparecidos) e a Guarita Salva-vidas,
que foram marcas registradas da cidade no passado, podem ajudar a divulgar e
manter Torres na mente dos turistas e veranistas.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
sábado, 1 de dezembro de 2018
NAVEGAÇÃO LACUSTRE NO LITORAL
O assunto Navegação Lacustre na
região do litoral norte, por muitos desconhecido, tem uma grande ligação com a
história dessa região bem como especificamente da história do município de
Torres.
O principal, e não primitivo,
povoamento da região de Torres se deu através dos imigrantes alemães vindos de
São Leopoldo no ano de 1826. Foram 421 pessoas, 352 colonos alemães (solteiros,
casados e viúvos) saídos de São Leopoldo em direção a Porto Alegre em cinco
“hiates”. Somaram-se a eles, na capital, outros 69 colonos seguindo viagem pelo
rio Guaíba até a foz do Capivari, e dali tomaram 16 carretas em direção à
Torres.
Aqui chegando eles se dividiram, ou
melhor, foram divididos, conforme o credo dos colonos, ou seja, os 237
evangélicos (acompanhados do pastor Karl Leopold Voges) foram estabelecidos nas
margens do Rio Três Forquilhas, por isso denominada Colônia de Três Forquilhas,
e os 184 católicos estabelecidos entre a Lagoa do Morro do Forno e do Jacaré,
que ficou conhecida como Colônia de São Pedro de Alcântara. Receberam lotes de
terras de 77 hectares, animais domésticos (vacas, cavalos, porcos), sementes
(trigo, arroz, feijão, batata), subsídios e isenção de impostos por dez anos.
Esses colonos produziram de tudo, mas
principalmente cana-de-açúcar, banana, batata, tabaco, arroz, mandioca, café,
algodão e milho. Três Forquilhas exportava rapadura e açúcar para Cima da
Serra, (Vacaria, Lages, Curitiba e Missões), São Pedro de Alcântara e Torres
exportavam aguardente para o comércio de Porto Alegre.
O comércio realizado pelo imigrante
alemão era feito primeiramente por índios que conduziam tropas de mulas abrindo
caminhos por Cima da Serra. O isolamento levou desespero aos colonos, que
embora tivessem ânimo, solo fértil, mudas e temperatura que favoreciam diversos
produtos agrícolas, não tinham um meio eficiente para escoar essa produção. As
duas estradas que ligavam a região aos povoados vizinhos, era a estrada de
Laguna e as trilhas por São Francisco de Paula, São Leopoldo, Dois Irmãos e
Porto Alegre.
A chamada “Estrada da Laguna”, que é
anterior à colonização açoriana, por onde paulistas e lagunenses passavam em
busca de gado e que também era utilizado com objetivos bélicos, se iniciava em
Laguna e seguia pela costa litorânea até o rio Mampituba, e ao passar por
Torres se embrenhava em terrenos mais complicados para o trânsito, como campos
entre as lagoas e o mar até chegar em Tramandaí. Ao passar pelo rio de mesmo
nome, seguia pelos campos das estâncias do arroio, São José do Bom Retiro,
Estância Velha, São João, Fortaleza,
Quintāo, Charqueada Velha até chegar a extensa faixa entre o mar e a Lagoa dos
Patos e por ela se encaminhava por várias estâncias passando por Rincão do
carro, São Simão, Mostardas, Bojuru, Estreito até chegar a Rio Grande. Este caminho surgiu por volta de 1723, sendo o
primeiro conhecido por esta região.
As trilhas por Cima da Serra, foram
caminhos que surgiram para complementar este inicial, a estrada do Tropeiro ou
estrada Real, ligava Viamão a serra onde encontrava a estrada dos Conventos,
para fazer a conexão com Curitiba e São Paulo. Para lá eram vendidos o couro e
o charque aqui produzidos.
A comunicação via lagoas se iniciou
por volta de 1847, e o trajeto era pelas lagoas situadas ao pé da serra Geral
até a lagoa da Pinguela e dali para Porto Alegre através de carretas puxadas
por cinco a seis juntas de bois, passando por Conceição do Arroio e Santo
Antônio da Patrulha.
Embora esta microrregião já tivesse os
outros caminhos por onde entravam e saíam as mercadorias que aqui se produzia e
se consumia, o caminho das águas surgiu como uma opção mais barata e eficiente
para ampliar e melhorar o escoamento da produção local.
Aos poucos o caminho das águas foi
substituindo os precários caminhos sobre trilhas.
“Naquela
passagem do século 19 para o 20, a navegação começava pela Lagoa Itapeva, onde
desemboca o Rio Três Forquilhas, e se estendia até Osório (novos canais foram
construídos no começo do século 20, resolvendo o problema de ligação entre os
pequenos portos). Ali, estava o porto lacustre, centro nervoso desse sistema.
Já era possível então realizar um percurso de Torres a Osório totalmente por
via fluvial. Restava a ligação Osório-Palmares do Sul, de onde se iria,
novamente por via lacustre, fazer chegar até Porto Alegre a produção litorânea.”
Em 1908 havia 7 iates, uma lancha a
querosene e um vapor que levavam pessoas e mercadorias pelas lagoas que tinham
ligação natural entre Torres e Conceição do Arroio (Osório).
“A
empresa, com esse complexo sistema de ligação entre lagoas por via fluvial e
férrea, denominava-se Serviços de Transporte entre Palmares do Sul a Torres
(STPT) e fazia parte do Plano Geral de Viação do Estado, concebido em 1913.”
Em 1921 os trilhos somaram-se à
navegação lacustre, era então inaugurada a linha férrea Palmares do Sul-Conceição
do Arroio pelo governador Borges de Medeiros.
“Importaram
da Inglaterra quatro locomotivas Hudson de 14 toneladas; uma alemã Borsing de
15 toneladas e duas Porter, que serviram na abertura do canal; três carros para
passageiros de primeira classe e um de segunda classe; 28 vagões de 10
toneladas para mercadorias, tendo 21 plataformas; um carro para animais; 20
vagões de 15 toneladas. As locomotivas não poderiam ultrapassar 18 km por hora,
fazendo o trajeto de 54 quilômetros em três horas.”
Em 1930 a empresa de transportes
Palmares a Torres é arrendada por Bernardo Dreher que manteve em funcionamento
a chamada viagem mista, de carga e de passageiros entre Palmares o porto do
Estácio (em Torres). E na época do veraneio, fazia uma viagem semanal com
turistas vindos da capital para as praias de Capão da Canoa e Torres.
Em 1935 Bernardo faliu e a empresa
retornou para as mãos do estado, porém continuou a ter seguidos prejuízos.
Agravados pela entrada da empresa de Transportes Coutinho de João Coutinho e
Cia, em 1941, que iniciou o serviço de transportes via terrestre entre Osório e
Porto Alegre.
A despesa total da empresa, em 1948,
chegou a três mil e cem contos de réis, enquanto que a receita total foi de
apenas seiscentos contos de réis. Este enorme déficit levou a empresa a uma
situação deplorável, sem manutenção e sem investimentos para reconstrução ou
reposição de materiais.
O governo baixou os fretes lacustres
e ferroviários para determinadas cargas com o intuito de amenizar a
concorrência direta dos transportes rodoviários. Não havia mais nada a fazer, o
transporte rodoviário e a precariedade da navegação lacustre determinaram a
extinção dos Serviços de Transportes entre Palmares e Torres (STPT) já em 1958.
Porém ele agonizou até 1960, pois ainda servia para o escoamento da principal
mercadoria desde 1949: o arroz.
“A
região atingiu grande desenvolvimento sócio-econômico que atraiu gente até de
Santa Catarina e chegou ao ápice na década de 40. Em dezembro de 1960, a
empresa foi desativada e o porto desmantelado.”
Os caminhos pelas águas e pelos trilhos
foram abandonados ao longo dos anos em detrimento aos caminhos de asfalto. Será
que poderia ter sido diferente?
Fonte: Marina
Raymundo da Silva, Rodrigo Trespach, Marco Antônio Witt.
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