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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

DOADORES DE CULTURA

Não é novidade nenhuma o desinteresse (ou o desleixo, ou a preterição) dos governos federal, estadual e municipal frente a cultura. Como diz a prefeita de Torres: se a crise é no país ou no estado, a crise também é no município. Ou seja, problemas globais são problemas locais. E parece que a preterição a cultura segue a mesma linha de raciocínio. Sempre haverá prioridades à cultura.
Não vou entrar no terreno pantanoso da política partidária, vou apenas falar sobre cultura e sua importância para a sociedade no âmbito global e local. Poderia escrever sobre a cultura e seu poder de mudar uma sociedade, de preservar esta sociedade ou de projetá-la no futuro. Mas vou escrever sobre um livro que virou filme e que servirá de metáfora para esta coluna.
O livro é “O doador de memórias”. Segundo sua sinopse, a autora Lois Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente – o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar. Assim como Jonas, o resto da população deste mundo “ideal” desconhece muitas coisas consideradas não relevantes pelos anciãos que comandam as comunidades (e muitos destes anciãos também não as conhecem). Não vou contar o desfecho do livro (ou do filme) porque vale a pena ler o livro (ou ver o filme). Quero com este exemplo fazer um paralelo com a nossa realidade cultural.
Poderia citar diversos exemplos para ilustrar o escasso interesse dos governos a respeito da cultura no Brasil ou no estado, mas vou apenas lembrar dos casarios açorianos da Júlio de Castilhos, dos cinemas antigos da cidade, dos CTG´s, das bandas, dos grupos de teatro, dos grupos de danças, dos escritores, dos poetas e de tantos outros agentes culturais da nossa cidade que sumiram ou silenciaram com o tempo. Falta de apoio, falta de incentivo, falta de público, falta de “cultura”, falta de memória ou tudo isso junto. Não sei, perdemos. Várias referências sumiram com o tempo, outras surgiram, é verdade, mas com pouco incentivo cada um procura salvar o seu “mercado cultural” do jeito que puder.
Será que nossos governantes (anciãos do livro) nos dão pouco acesso à cultura por desconhecer a sua importância, por preterição ou por simplesmente ignorar sua existência? E a população (comunidades) não têm acesso a cultura porque não sente falta do que não sabe que existe? Ou seja, se desconhece sua existência, não sente falta.
Precisamos de um Jonas que liberte a memória da cultura esquecida no passado ou nem lembrada e mostre com clareza o seu poder transformador. Um Jonas que liberte a cultura em forma de teatro, pintura, livros, danças, tradições regionais, poesias, aprisionadas no fundo de uma memória burocrática e populista que teima em mantê-la longe dos cidadãos.
Enquanto isso não acontece, você que é ligado a área, é agente ou produtor cultural, ou simplesmente aprecia a cultura junte-se ao movimento cultural da cidade através do Conselho Municipal de Cultura e ajude alguns “Jonas” nesta prazerosa, porém difícil tarefa.

Em tempo: Em Torres existem Doadores de cultura (fruto do primeiro Edital do FUMCULTURA) prestando seu trabalho em troca de sorriso, satisfação e conhecimento a serem reproduzidos infinitamente. 

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