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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

VERANISMO

Me recordo que antigamente não se falava muito em turista, o que existia era a figura do veranista. Como aqui na aldeia muita gente confunde veranista com turista, achei interessante e didático esclarecer esta dúvida. Embora eu tenha claro o significado de um de outro, considero mais prudente me socorrer de um autor que trabalhou muito bem esta diferença, então faço minhas as palavras de Javier Caletrío
"Ao tentar decifrar o significado desta previsibilidade e familiaridade por meio de teorias sociais do turismo, somos levados a descartar o veraneio como uma forma de turismo, seja a não conseguir compreender seu potencial emancipatório. Ao tomar como pressuposto a dicotomia entre casa e alhures (em outro lugar, outra parte, home andaway), na qual a casa é associada ao familiar e o alhures à novidade e ao exótico, o familiar tende a ser compreendido como tudo aquilo que o turista deixa para trás. Em um de seus escritos mais antigos sobre o assunto, Urry (1990: 2-3) argumenta que o turismo envolve o movimento de pessoas a “um novo lugar ou a novos lugares”, que logradouros turísticos são locais “fora do comum” e que há uma “clara intenção de voltar para ‘casa’”.
Auxiliado por Caletrío, então, veranista é a pessoa que passa o verão em algum lugar específico (fora do local onde reside), no nosso caso, no litoral e mais precisamente em Torres. Esta figura já habita nosso litoral há muitos anos, ou verões, ou temporadas. Famílias inteiras passaram várias temporadas em Torres em décadas passadas e novas gerações, dessas e de outras famílias, perpetuam esta modalidade iniciada antes de Picoral.
Também, antigamente, essa prática era feita através de quartos em hotéis (aqui o início da confusão entre os conceitos), aluguel de chalés ou chalés próprios e acampamentos em campings. Hoje, continua mais ou menos igual. A diferença, ficou por conta da substituição dos chalés por Casas e/ou apartamentos próprios ou alugados e a quase extinção dos campings. Ah! Outra mudança substancial, foi o tempo de permanência do veranista aqui. Antes, este período era de mais ou menos dois meses, hoje, este período varia de semanas até no máximo, um mês. Outra alteração foi que, este veranista, está vindo fora da temporada do verão, virando “outonista”, “primaverista” e até “invernista”, se existissem estes termos!
Continua Caletrío:
“Tenho sim a real intensão de separar o pragmatismo do TURISMO para a informalidade e degradação do VERANISMO. Na minha análise, VERANISMO seria o deslocamento para estadias em casas de VERANEIO e VERANISTAS as pessoas que alugam ou são proprietárias dessas casas, que concordo, não deixa de ser TURISMO, no entanto esse público alvo, não se renova: Contudo, os veranistas exibem uma incrível fidelidade ao lugar, mesmo após perdas de status decorrente da expansão de construções. Isso sugere que uma dinâmica mais complexa está por trás da vivência do lugar."
Parafraseando Caletrío: Uma pessoa que faz as compras no mercado local e vai à praia e, ao pisar na praia, sua figura não se diluirá na massa impessoal que já se tornou a imagem paradigmática das praias do litoral gaúcho. Ao contrário, o passeio à beira-mar será um reencontro com amigos de longa data e conhecidos. Essa pessoa não é um turista, pelo menos não no sentido acadêmico de uma pessoa que deixa para trás os ambientes conhecidos do dia-a-dia em busca de novidades ou do exótico. Tampouco é um turista “de massa”, no sentido mais cotidiano e pejorativo, denotando um membro passivo pertencente a um coletivo dócil, atraído pelo famoso trio sol-praia-mar. Contudo, se essas pessoas abandonassem as praias do litoral gaúcho, muitas ficariam desertas e a imagem tradicionalmente associada ao turismo de massa aos poucos se apagaria.
Então, salve os veranistas “torrenses”, pessoas que escolheram Torres para ser o lugar onde passarão a maioria dos verões (e outras estações) de suas vidas.
Em tempo:
Turista: É toda a pessoa, sem discriminação de etnia, sexo ou religião, que entra em um território contratante diferente do local de residência, com um prazo superior a 24 horas e inferior a 12 meses com o objetivo de lazer, esporte, saúde, motivos familiares, estudos, peregrinação religiosa ou negócio.
Veranista: indivíduo que habitualmente passa o verão fora do local onde reside.


Fonte: Caletrío, Javier. “De veraneo en la playa”: pertencimento e o familiar no turismo de massa no Mediterrâneo. Est. Hist., Rio de Janeiro, vol. 24, nº 47, p. 119-140, janeiro-junho de 2011.

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