Tarde de
Domingo, pipoca sendo feita em frente ao cine Ronda.
Ficava
com meu ingresso na mão olhando o pipoqueiro em sua destreza estourar as
pipocas e espalhar o aroma por toda a quadra do cinema. Naquele tempo a pipoca
era feita com banha em uma velha panela com furos na tampa aquecida por um
antigo “fogareiro de liquinho” (botijão de gás pequeno, que hoje é proibido seu
uso). Depois disso, as pipocas eram cuidadosamente colocadas nos saquinhos e
expostas na vitrina do carrinho, prontas para serem vendidas. O velho carrinho
de pipoca e seu pipoqueiro ali permaneciam até o final da matiné. Quando
recomeçava a função. Uma boa espiada no cartaz exposto na vitrina e a entrada
no cinema. O “gringo” cuidando dos bastidores do cinema, desde a distribuição
dos cartazes pela cidade até o fechar e abrir as portas do prédio. Mentos,
chicletes Adams, bala de goma e bala mocinho nos acompanhavam cinema a dentro. Lembro
muito bem de um grande mezanino e seu teto escuro com estrelas de diversos
tamanhos, pintadas simulando um céu a noite.
Estas são
minhas lembranças de um cinema criado por Nicola Valosiewitch Zoanni, um russo
que veio para o Brasil durante o período da Revolução Russa por
incompatibilidades com o novo regime. Chegou no ano de 1949, com a família para
estabelecer-se definitivamente em Torres. Pioneiro empresário da cultura
circense, teatral e cinematográfica no balneário de Torres, Zoanni montou seu
circo-cinema inicialmente nos fundos do anexo do Farol hotel (também conhecido
como Imperial, demolido no ano de 2010), onde fazia apresentações de mágica e
depois projetava filmes na parede dos fundos do prédio.
No ano de
1954 ele levou o cinema para a parte baixa da cidade, no bairro Ronda. Nesta
época, Ronda era um bairro popular que sofria forte preconceito, por ali
morarem pessoas de classes menos nobres, pois os ricos moravam na parte alta da
cidade. No início o mesmo barracão de madeira (da parte alta) serviu de sede. Não
tinha piso, era tipo circo com arquibancada e tábuas em cima da areia. Com o
tempo as paredes de alvenaria foram sendo levantadas por fora do barracão dando
o lugar ao novo Cine Ronda, nome escolhido em homenagem ao bairro.
Supõe-se que a intenção da escolha deste bairro
fosse pelo baixo custo de implantação e também popularizar a cultura garantindo
a frequência o ano todo, fugindo da concorrência corporativista da zona nobre.
Posteriormente sempre superou em lotação ao cinema da SAPT que chegou depois,
na zona nobre da cidade, e só abria na temporada de verão. (Job, 2014).
Sabe-se
que Nicola pintou, no teto do Cine Ronda, estrelas sob um fundo azul escuro, talvez
uma alusão as antigas lonas de circo ou aos artistas que passavam pela tela do
cinema.
O céu azul de Nicola e Maria Eugênia certamente
foi o mais brilhante de todos, capaz de encantar a tantos de tal forma que suas
estrelas continuam fazendo parte de todos que ali encontraram muito mais que
algumas horas de distração. (Silveira, 2010).
Minhas
melhores lembranças de cinema são dentro do Cine Ronda, e esta é minha
homenagem a este pioneiro na cidade de Torres.
Fonte: SILVEIRA,
Rute Almeida da. TCC de História. Projetor de memórias um olhar do público
sobre o Cine Ronda (Torres/RS 1950 – 1960)
http://osvaldojob.blogspot.com.br/2014/02/os-tres-patetas-e-o-cine-ronda.html
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