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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

CÉU ESTRELADO EM TORRES

Tarde de Domingo, pipoca sendo feita em frente ao cine Ronda.
Ficava com meu ingresso na mão olhando o pipoqueiro em sua destreza estourar as pipocas e espalhar o aroma por toda a quadra do cinema. Naquele tempo a pipoca era feita com banha em uma velha panela com furos na tampa aquecida por um antigo “fogareiro de liquinho” (botijão de gás pequeno, que hoje é proibido seu uso). Depois disso, as pipocas eram cuidadosamente colocadas nos saquinhos e expostas na vitrina do carrinho, prontas para serem vendidas. O velho carrinho de pipoca e seu pipoqueiro ali permaneciam até o final da matiné. Quando recomeçava a função. Uma boa espiada no cartaz exposto na vitrina e a entrada no cinema. O “gringo” cuidando dos bastidores do cinema, desde a distribuição dos cartazes pela cidade até o fechar e abrir as portas do prédio. Mentos, chicletes Adams, bala de goma e bala mocinho nos acompanhavam cinema a dentro. Lembro muito bem de um grande mezanino e seu teto escuro com estrelas de diversos tamanhos, pintadas simulando um céu a noite.
Estas são minhas lembranças de um cinema criado por Nicola Valosiewitch Zoanni, um russo que veio para o Brasil durante o período da Revolução Russa por incompatibilidades com o novo regime. Chegou no ano de 1949, com a família para estabelecer-se definitivamente em Torres. Pioneiro empresário da cultura circense, teatral e cinematográfica no balneário de Torres, Zoanni montou seu circo-cinema inicialmente nos fundos do anexo do Farol hotel (também conhecido como Imperial, demolido no ano de 2010), onde fazia apresentações de mágica e depois projetava filmes na parede dos fundos do prédio.
No ano de 1954 ele levou o cinema para a parte baixa da cidade, no bairro Ronda. Nesta época, Ronda era um bairro popular que sofria forte preconceito, por ali morarem pessoas de classes menos nobres, pois os ricos moravam na parte alta da cidade. No início o mesmo barracão de madeira (da parte alta) serviu de sede. Não tinha piso, era tipo circo com arquibancada e tábuas em cima da areia. Com o tempo as paredes de alvenaria foram sendo levantadas por fora do barracão dando o lugar ao novo Cine Ronda, nome escolhido em homenagem ao bairro.
Supõe-se que a intenção da escolha deste bairro fosse pelo baixo custo de implantação e também popularizar a cultura garantindo a frequência o ano todo, fugindo da concorrência corporativista da zona nobre. Posteriormente sempre superou em lotação ao cinema da SAPT que chegou depois, na zona nobre da cidade, e só abria na temporada de verão. (Job, 2014).
Sabe-se que Nicola pintou, no teto do Cine Ronda, estrelas sob um fundo azul escuro, talvez uma alusão as antigas lonas de circo ou aos artistas que passavam pela tela do cinema.
O céu azul de Nicola e Maria Eugênia certamente foi o mais brilhante de todos, capaz de encantar a tantos de tal forma que suas estrelas continuam fazendo parte de todos que ali encontraram muito mais que algumas horas de distração. (Silveira, 2010).
Minhas melhores lembranças de cinema são dentro do Cine Ronda, e esta é minha homenagem a este pioneiro na cidade de Torres.
Fonte: SILVEIRA, Rute Almeida da. TCC de História. Projetor de memórias um olhar do público sobre o Cine Ronda (Torres/RS 1950 – 1960)
http://osvaldojob.blogspot.com.br/2014/02/os-tres-patetas-e-o-cine-ronda.html

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