Tons claros contrastados com o forte azul do mar e suaves tons terrosos
dos penedos. Duas das famosas torres que dão o nome a cidade estão
representadas na aquarela de Wendroth, bem como a guarita e uma pequena
formação rochosa que aparentemente existia entre elas.
Assim como Pelichek, Wendroth retratou a vila de Torres em sua
esplêndida, e ainda pura, beleza. Isto aconteceu, talvez, entre os anos de 1851
e 1852 quando por aqui passou e registrou, com seus pinceis, os cenários do Rio
Grande do Sul oitocentista, deixando-nos como legado um importante acervo
iconográfico.
Hermann Rudolf Wendroth, alemão vindo para o Brasil logo após 1850 para
lutar contra Rosas, o tirano argentino. Ele aportou por aqui com um grupo de
alemães conhecidos como brummers que
significa resmungões. Além de Wendroth, vieram outras figuras que fizeram
história pelo solo gaúcho contribuindo de maneira apreciável para o
enriquecimento científico e cultural do Rio Grande do Sul e do Brasil: Carlos
Von Koseritz, na defesa dos direitos políticos dos imigrantes, o Barão Von
Kahlden, Wilhelm Von Ter Brüggen e Frederico Hänsel que foram membros da
Assembleia Provincial do Rio Grande do Sul; Franz Lothar de la Rue, primeiro
diretor da colônia de Teutônia; Carl Otto Brinckmann, jornalista em Santa
Maria; Carlos Jansen, jornalista em Porto Alegre.
Wendroth, além de combatente, era um artista amador e produzia, também,
pequenos textos.
“Seus desenhos e aquarelas significam para o Rio Grande do Sul o que
Debret é para o Brasil. Há esboços e pinturas de Wendroth que dão uma ideia
muito exata do Rio Grande entre 1850 e 1860. Flora e fauna são revelados, mas
sobressai o registro dos usos e costumes: índios atravessando rios em pelotas
de couro em que acomodavam família e pertences, o uso do laço e das
boleadeiras, cenas de negros sendo castigados por escravos acorrentados,
carretas e embarcações da época, tudo com muita minudência”.
Claro que a comparação entre Wendroth e Debret é um tanto, se não muito,
esdrúxula, porém seus registros são documentos que comprovam com riqueza de
detalhes os usos e costumes daquela época no Rio Grande do Sul da mesma forma
com que Debret os retratou em relação ao Brasil. As diferenças aqui ficam na
importância dos artistas e na missão de cada um. Debret, um reconhecido artista
francês, vindo para o Brasil em missão artística, e Wendroth, um artista amador
e mercenário, vindo em missão bélica.
O primeiro, e mais famoso, ainda publicou grande parte de sua obra na sua
volta à França. O segundo, o brummer, teve seus trabalhos confiscados pelo
exército após sua deserção e posteriormente surrupiados por um certo F. A.
Buhlmann que os ofereceu a Dom Pedro II dizendo ser de sua autoria.
Embora não publicados, por vias tortas, os trabalhos de Wendroth foram
reconhecidos e valorizados após chegarem as mãos do imperador. Ainda que
Buhlmann tenha tentado vendê-los como seus, o verdadeiro autor foi facilmente e
para isso cooperou Sofia, uma das retratadas eleitas pelo pintor e que invocava
seu nome.
Outro aspecto a ser destacado em comparação a Debret e a outros
artistas-viajantes, é que os desenhos de Wendroth não são complementados com
comentários explicativos, mas apenas com legendas em alemão. Este pode ter sido
um fator que contribuiu para o pouco conhecimento do seu álbum, posteriormente
publicado.
“Wendroth pintou vários rostos femininos, legou-nos cenas inusitadas como
a de soldados com as calças a meia-canela atravessando um banhado ou de uma
batalha em que oito soldados alemães teriam posto a correr um batalhão da
guarda nacional usando os urinóis como armas em hospital de Pelotas.
Aventureiro, explorou ouro no burgo de Lavras e pintou mineiros em atividade a
céu aberto, bem como um rancho a que chamou “minha residência” em Lavras. Fez
um estudo das rochas e da presença do metal na região, bem como sobre o carvão
de pedra no Rio Grande do Sul. Valorizado pelos ministros do imperador, as
imagens de Wendroth passaram a figurar no Museu Nacional.”
O indisciplinado bummer alemão teve um fim desconhecido, presume-se que
tenha falecido por volta de 1860 em Porto Alegre ou em Buenos Aires, um fim tão
rabugento quanto ele próprio!
FONTE: Jornal
Zero Hora, de 12 de agosto de 2010;A
Iconografia de Viagem de Hermann Rudolph Wendroth sobre o Rio Grande
Oitocentista. Maria Angélica Zubaran;
http://www.sulrural.com.br; http://www.wikiwand.com; Cardoso,
Eduardo. A
Invenção de Torres. Unisinos, 2008.
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